30.11.05

Coisas para se começar a fazer aos 31 anos...

e não parar nunca mais: usar Renew e contribuir para um plano de previdência.

29.11.05

No país da roubalheira, nem Papai Noel tá escapando

Quem mora em Curitiba já deve estar acompanhando as campanhas de Natal na TV, inclusive a do Shopping Crystal. Pois bem, durante todo este ano o shopping tem usado animações em seus comerciais. São filmes bonitinhos, simples, adequados ao posicionamento do empreendimento: um shopping-butique, frequentado por quem tem dinheiro ou quer parecer que tem.

O VT de Natal também é uma animação - um estilo extremamente relacionado ao universo infantil. Na historinha, Papai Noel desce por uma chaminé com seu enorme saco de presentes. Ao chegar perto da árvore da Natal, vê uma sacola com a marca do Crystal. Os cortes entre a imagem do seu saco e da sacola representam a dúvida do bom velhinho. Depois de tanta hesitação, ele pega sacola e vai embora. Gente, Papai Noel, aquele que cobra das criancinhas bom comportamento o ano todo, roubou a sacola no filme do Shopping Crystal!

Sorry, não há argumento criativo que justifique os valores que estão sendo transmitidos nesta campanha. Se um presente deste shopping é um desejo de consumo tão irresistível que até um ícone de bom caráter, como o Papai Noel, recebe "licença" para roubá-lo, melhor não reclamar se algum trombadinha levar a sacola da madame quando ela sair do Crystal.

25.11.05

Um homem com uma dor é muito mais elegante

um homem com uma dor / é muito mais elegante / caminha assim de lado / como se chegando atrasado / andasse mais adiante / carrega o peso da dor / como se portasse medalhas / uma coroa um milhão de dólares / ou coisa que os valha / ópios édens analgésicos / não me toquem nessa dor / ela é tudo que me sobra / sofrer, vai ser minha última obra

Quando ouvi no carro, era Zélia Duncan quem estava cantando. Dei uma googleada para achar a letra completa e descobri que Itamar Assumpção foi quem musicou. A melodia é uma graça, tem tudo a ver com a letra. Que é de Paulo Leminski.

Acho que eu gosto muito desta música porque sempre me senti atraída pelos homens quietos. Uma festa, barulho, gente se divertindo e dançando. Adivinha pra quem eu vou olhar? Para aquele cara encostado na parede, tomando uma cerveja long neck. Ele, provavelmente, vai estar usando jeans e camiseta, algo básico, simples e despojado. O homem com uma dor não usa roupas extravagantes.

Esses caras que observam as festas em silêncio me parecem homens digerindo alguma dor. Pode ser um coração partido, uma crise existencial, um tédio da vida. Mas o importante é que eles sentem. E, ao contrário das mulheres, os homens saem sozinhos só para olhar e beber. Porque talvez seja mais fácil lidar assim com a tal dor. Sem remoer, deixar ela ali, quietinha, cumprindo seu ciclo.

Um homem desses pode sorrir para você, mas vai continuar com os olhos tristes. Vai conversar e ser agradável, mas sem contar vantagens. Talvez fale do seu sofrimento, mas sempre rindo de si mesmo, sendo irônico ou irreverente. E se ele por acaso vir a lhe beijar, vai ser um beijo adulto, maduro, profundo. Vai parecer que ele sabe tudo do mundo e da vida e provavelmente não vai compartilhar com você. Porque ele alcançou um patamar muito além do qual você, menina frívola, poderia compreender.

É por isso que, no dia seguinte, ele não vai ligar. E nem na outra semana, e nem no outro mês. Porque essa dor é a desculpa que ele dá para nunca precisar amar alguém. E é covardia tentar concorrer com uma dor assim tão sedutora, tão nobre e que combina tanto com ele.

19.11.05

Coloca o boné...

... que fica bonito em você.
Ridícula sou eu de dizer o que você deve ou não vestir.
Que cobro que você tenha estilo e limito quando você tenta.
Porque digo que ele deixa você com cara de delinqüente.
Mas reclamo do seu jeito de bonzinho.
Põe de uma vez esse boné e me faz ver quem você é.

18.11.05

Quem desacata quem?

Na recepção da Delegacia da Polícia Federal em Curitiba, diversos cartazes espalham-se pelas paredes e reproduzem o trecho do Código Civil (?) que informa sobre as penalidades para o "desacato à autoridade". Além do xerox em folha A3 da lei, outros cartazes destacam o comentário de algum jurista qualquer sobre a questão do desacato.

Não lembro de cor dos textos, mas guardei que desacato inclui ofensas, xingamentos, palavras de baixo calão, ironia e até "gritos estridentes". Queria saber se existe algum item do Código que aborde o desacato ao cidadão, ao contribuinte, ao ser humano de forma geral. Se existir, ele não está colado em cartazes nas paredes do órgão.

O primeiro pensamento que me veio à cabeça é que, se os policiais sentiram necessidade de intimidar as pessoas que frequentam a delegacia com essa exposição da lei, significa que o desacato é comum por ali. O que você acha: é comum porque as pessoas são todas histéricas, descompensadas e estúpidas, ou porque a burocracia e a falta de educação de alguns funcionários públicos levam até o mais paciente e tolerante dos homens à loucura?

O paradoxo é que ao lado de um dos cartazes, um delegado com vozeirão de trovão despejava sua brutalidade e impaciência sobre as pessoas que esperavam na fila. Cobrava, grosseiramente, documentos que já estavam em suas mãos, mas que ele não havia visto; ironizava os papéis incorretos apresentados pelas pessoas; desrespeitosamente, chamava a atenção de senhores e senhoras com idade para serem avós dele.

Pelo menos, os funcionários que atendem na parte interna, no balcão, são mais educados e eficientes. Um contraste em relação ao brutamontes da recepção. Que, mesmo se tivesse razão, não poderia tratar as pessoas daquela forma. Como trabalha no serviço público, deveria compreender que em um país como o Brasil, onde grande parte da população não tem acesso à informação e à educação, tramitar com desenvoltura pelos meandros da burocracia é uma façanha para poucos. Com certeza, não para as pessoas simples e idosas que ele desancou naquele dia.

11.11.05

Um nenê na mesa do bar




Esse é o nenê. Ele está largado na mesa do bar, em meio ao sal que pulverizaram na batata frita, mas que acabou temperando a madeira.

Perigosamente perto espalham-se mini poças de cerveja, líquido derrubado no afã de alguma piada.

Abandonado entre os copos e os pratos, parece um serzinho carente e desprezado. Mas ele sabe que é muito amado.

Daqui a pouco, o nenê vai pra casa descansar até o outro dia, quando vai fazer bungee jump na ignição.

9.11.05

Pérolas (aos porcos) da sabedoria popular

Noite de terça-feira em uma das mesas do Iggy Rock, em Curitiba:
- Alguém viu meu copo?
- Copo é que nem cu: cada um cuida do seu.

No Rio, também vou de ônibus

Luciene, sua temperada engrossou o caldo no quesito "ônibus" dessa minha cachola. Mal sabe você que, das experiências que tive no Rio de Janeiro, a maioria tem a participação especial de um coletivo.

Em 1995, eu e minha amiga fomos ao Barra Shopping de 175, a despeito de nos desaconselharem a idéia. Duas curitibanas bobonas e branquelas passando na Rocinha não era seguro. Aí é que a gente foi mesmo. A contestação tem o poder de transformar qualquer episódio rotineiro em aventura.

Nas mesmas férias, voltamos de Cosme de Velho à noitinha e pegamos um ônibus cujo motorista era completamente alucinado. Então ficamos na parte de trás, agarramos naqueles ferros e entregamos nossa alma ao Cristo Redentor que tínhamos acabado de visitar. Foi super divertido, até porque a gente percebeu que na hora do rush o movimento não deixa ninguém passar muito tempo correndo.

A terceira experiência aconteceu no Carnaval deste ano. Fomos de ônibus até Santa Teresa porque o bondinho estava em greve. Subimos até o Corpo de Bombeiros, de onde se tem uma vista maravilhosa da cidade. Mas que subida! À toda velocidade, o ônibus escalava as ruas estreitas e cheias de curvas sem nem dar por isso. Passava perto dos parapeitos e rabeava a traseira.

Agarrada no banco com as mãos suadas, torcia para não aparecer nenhum cachorro ou criança na frente daquele bólido tresloucado. Das duas uma: ou ele ia frear e cairíamos todos sobre as pitorescas casinhas que iam ficando para baixo, ou atropelaria quem tivesse na rua. Depois disso, as curvas do aterro do Flamengo foram fichinha.

Parece que andar de ônibus no Rio é uma experiência de extremos. Não sei o que foi pior: passar tantos sustos com a correria dos motoristas ou levar 20 minutos apenas para dar a volta em uma quadra de Copacabana.

Um caminhão de lixo resolveu fazer o mesmo trajeto e acabamos ficando atrás dele, acompanhando a coleta dos sacos plásticos, o esvaziamento dos latões e o cheiro dos restos entrando pelas janelas. Finalmente, conseguimos escapar e rezamos à Nossa Senhora de Copacabana para que nos protegesse do motorista que desembestava pela rua por conta do atraso.

Tenho um carinho especial pelos ônibus do Rio. Deve ser porque eu não preciso andar neles todos os dias. Quem sabe não inventam um roteiro turístico à base de coletivos? Conhecer a cidade vai ser ainda mais emocionante.

8.11.05

Vou de ônibus

Costumo brincar com o fato de andar de carro quando meu noivo praticamente só anda de ônibus. Ele é muito bem-humorado e talvez seja a única pessoa para quem posso falar tudo o que penso, todas as brincadeiras, os trocadilhos infames e as falas hipotéticas de pessoas e situações hipotéticas que surgem da minha imaginação, sem que ele me julgue mal por isso. Aliás, foi o que nos aproximou: a tranquilidade em lidar com a ironia, sem ter que ficar explicando ou se justificando depois.

É por isso que quando falei para ele, hoje de manhã, que não teria problema em ir ao trabalho de ônibus, já que é importante, de vez em quando, ficar junto ao povo, ele não me achou uma babaca esnobe alienada. Deu risada e se divertiu. Teve a mesma reação das outras vezes em que fiz piadinhas do tipo. Quando chove, por exemplo, digo para ele não esquecer o guarda-chuva, uma preocupação típica de pessoas pobres, que não podem andar de carro, como eu. Ele ri, incrédulo, da minha cara de pau.

Hoje ele ficou com o carro e eu fui para o trabalho de ônibus. A linha que eu peguei passa por lugares muito agradáveis, estava vazia naquela hora e fez um trajeto que eu imaginava mais longo. Quando vi, já tinha chegado no ponto. Pulei orgulhosa para a rua e feliz em andar um pouco àquela hora da manhã. Encontrei a Eliza na pet shop que fica no caminho para a agência e ficamos namorando os cachorrinhos. Peguei dois bull terriers no colo e fiz carinho nas bochechas de uma bulldog. Continuamos andando. Quando cheguei na agência, a blusa de lã fedia insuportavelmente, mas meu humor estava ótimo.

Andar de ônibus só é romântico para quem o faz nessas condições. Precisar se espremer todo o dia, enfrentar frio e chuva no ponto e chegar tarde em casa por causa do atraso não é nada singelo. Mas como fez bem essa mudança na rotina. Realmente, é legal ficar perto do "povo". Antes das 9 e meia da manhã eu já tinha dado bom dia ao motorista e ao cobrador, conversado com a Eliza, tagarelado com os dois vendedores da pet shop e ganhado umas lambidas dos bull terriers. Quando eu conseguiria tanta interação logo de manhã, se tivesse ido trabalhar de carro?