Tem se falado muito em "crise da publicidade" ou "crise da criação publicitária". Acho que essa crise tem a ver com os novos meios, com a nova maneira pela qual os consumidores se relacionam com as marcas e com as mídias. Mas também parece ser uma crise de conteúdos, de idéias.
Tudo bem, a gente sabe que nem sempre o cliente ajuda. Às vezes a agência tenta, mas o anunciante faz do jeitinho dele. E aí acontecem umas "coincidências", umas "referências" explícitas demais.
Esses dias tinha um outdoor de uma concessionária Citröen com a chamada "Quem compara compra Citröen". A idéia, segundo o dono da agência que veiculou esta peça, era mostrar a relação custo-benefício do carro. Só que essa chamada é idêntica a um slogan da Consul, utilizado na segunda metade da década de 1990, talvez em 1996 ou 1997: "quem compara compra Consul".
Abordar a relação custo-benefício é informação de briefing, é USP (unique selling proposition). Agora, o COMO abordar esse aspecto, é da alçada da criação publicitária. A chamada, portanto, por mais banal que seja, por mais que pareça apenas "um argumento de venda", tem recursos de criação. Utilizá-la novamente é uma falta de, digamos, trabalho de criação (para não dizer outras coisas).
A Gazeta do Povo também faz dessas. A estratégia deles é mais sutil, mas a gente nota de onde vêm as "idéias" presentes na comunicação do jornal.
A Folha de S. Paulo tem um ratinho como mascote de seu serviço de classificados. A Gazeta lançou um coelhinho para o mesmo "cargo", bem parecido com o roedor paulistano, por sinal. Agora, o jornal curitibano está usando um casal nos comerciais de assinatura - estratégia parecida com a campanha Paulo e Bia, do Estadão, vencedora de vários prêmios de marketing direto.
A diferença é que, na campanha do Estadão, as pessoas podiam votar em quem vendia melhor: o Paulo ou a Bia? Na campanha da Gazeta não existe essa interatividade.
Porém, é preciso reconhecer que, apesar de a idéia não ser original, os atores estão ótimos.
15.10.06
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6 comentários:
quem compara compra consul. quem compara põe na consul.
agora a musiquinha vai ficar tocando uns 4 dias na minha cabeça.
e sim, parece haver uma escassez de idéias. ou um monte de "chupadas" por ai.
o pior é quando elas não são intencionais. como explicar a idéia que vc teve e é igual a usada por aquele outro produto?
talvez absorver todo o conteúdo de anuários do planeta todo não seja lá uma idéia tão boa. sempre pode surgir aquela idéia que vc julga ser ótima, mas que foi só uma lembrança de uma peça vista mandada pelo seu inconsciente :P
beijo!
Pois é, a questão dos anuários.
Qualquer elemento visual ou verbal pode servir de referência, de start para uma idéia original ou para a solução de um problema.
Mas já li e ouvi vários publicitários famosos aconselhando: ao invés de buscar as idéias nos anuários, busque na vida!
É aquela história do repertório. Ir o cinema, teatro, ouvir música, ler jornal, andar de ônibus, conversar com as pessoas - tudo isso ajuda na hora de criar.
Quanto às "chupadas" sem intenção, é normal que elas ocorram. Mas como disse o Carracoza, idéias que se vêem aos montes por aí é porque não foram muito trabalhadas. Por isso, acabam acontecendo para qualquer um.
E quem já não teve uma dessas, que atire a primeira pedra.
agora me explica: com as rotinas de agência - ou melhor, com a rotina de QUALQUER serviço de criação -, como você arranja tempo pra vida?
acho que não assisto meus seriados favoritos há meses :P
em compensação, vivia fugindo do trabalho pra ir ao cinema.
preciso ver mais daqueles filmes iraquianos. quem sabe eles não me dão novas idéias?
beijos
A publicidade vem sendo uns dos meios(colocando a colher e se metendo no seu blog, se infiltrando em algo que é seu...)mais nojentos para trabalhar. Dificilmente você encontra pessoas que não tenham excesso de ego. O ego vem antes da campanha.
Acredito que essa busca desenfreada em ser os "tais" realmente vem atrapalhando a nova publicidade.
Perâmbulo "metendo a colher" em muitos blogs e o que leio é um conjunto de gente se achando acima de tudo, acredito que ainda não vieram os grandes no meio dessa geração. Acho que quando vier, será alguém mais simples (não me refiro sem conhecimento), que vai tirar "suco de pedra". Os profissionais de hoje seguem a cartilha do sucesso de décadas passadas, agem e arrotam o saber utilizando fórmulas prontas.
Desculpe te mandar mensagem, percebi pelo enunciado do seu blog, que não gosta de mensagem de estranho, mas saiba que simpatizo com seu trabalho.
Se caso incomode tiro a mensagem depois.
Um abraço Dulcinéia
Oi Abreu
Fique à vontade para dar "colheradas" no blog! Se o enunciado dá a impressão que elas não são bem aceitas, é um problema de comunicação. Seu comentário é muito bem-vindo!
Você tem razão, tem ego demais e idéias de menos. Mas as coisas vão mudar.Os clientes já estão meio de saco cheio. Existem muitas oportunidades em criação, não exatamente em propaganda. Quando a gente cria para outras disciplinas, talvez a visibilidade seja menor, mas o trabalho é gratificante.
Como os materiais de no-media não aparecem muito, sobra menos espaço para ego e mais para competência...
Kim, darling
Essa questão do tempo é importante. Vc tem razão.
Acho que um pouquinho de organização liberaria as pessoas mais cedo da agência.
Tenho uma teoria meio polêmica: criativo fica mais tarde na agência porque é o único lugar em que ele é (ou pensa ser) importante. Na vida real, ele é mais um na multidão. E não há ego que resista a tanta indiferença. Então, melhor enrolar o trabalho, ficar por lá até tarde e depois tomar uma cerveja com os colegas. Nesse mundinho eles estão seguros.
É claro que existem exeções, tanto quanto ao ego como em relação ao volume de trabalho. Mas no geral...
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