8.11.05

Vou de ônibus

Costumo brincar com o fato de andar de carro quando meu noivo praticamente só anda de ônibus. Ele é muito bem-humorado e talvez seja a única pessoa para quem posso falar tudo o que penso, todas as brincadeiras, os trocadilhos infames e as falas hipotéticas de pessoas e situações hipotéticas que surgem da minha imaginação, sem que ele me julgue mal por isso. Aliás, foi o que nos aproximou: a tranquilidade em lidar com a ironia, sem ter que ficar explicando ou se justificando depois.

É por isso que quando falei para ele, hoje de manhã, que não teria problema em ir ao trabalho de ônibus, já que é importante, de vez em quando, ficar junto ao povo, ele não me achou uma babaca esnobe alienada. Deu risada e se divertiu. Teve a mesma reação das outras vezes em que fiz piadinhas do tipo. Quando chove, por exemplo, digo para ele não esquecer o guarda-chuva, uma preocupação típica de pessoas pobres, que não podem andar de carro, como eu. Ele ri, incrédulo, da minha cara de pau.

Hoje ele ficou com o carro e eu fui para o trabalho de ônibus. A linha que eu peguei passa por lugares muito agradáveis, estava vazia naquela hora e fez um trajeto que eu imaginava mais longo. Quando vi, já tinha chegado no ponto. Pulei orgulhosa para a rua e feliz em andar um pouco àquela hora da manhã. Encontrei a Eliza na pet shop que fica no caminho para a agência e ficamos namorando os cachorrinhos. Peguei dois bull terriers no colo e fiz carinho nas bochechas de uma bulldog. Continuamos andando. Quando cheguei na agência, a blusa de lã fedia insuportavelmente, mas meu humor estava ótimo.

Andar de ônibus só é romântico para quem o faz nessas condições. Precisar se espremer todo o dia, enfrentar frio e chuva no ponto e chegar tarde em casa por causa do atraso não é nada singelo. Mas como fez bem essa mudança na rotina. Realmente, é legal ficar perto do "povo". Antes das 9 e meia da manhã eu já tinha dado bom dia ao motorista e ao cobrador, conversado com a Eliza, tagarelado com os dois vendedores da pet shop e ganhado umas lambidas dos bull terriers. Quando eu conseguiria tanta interação logo de manhã, se tivesse ido trabalhar de carro?

5 comentários:

Anônimo disse...

Olha aí! Tá resolvido: todo dia vc de busão e eu de carro. Olha que beleza!!!
Um beijo,
Tatá.

Anônimo disse...

oiê Adriana. Pois, vim do orkut pra cá. COmo sou tan tan (já disse isso né?) esqueci de te mandar o endereço do blog. Mando agora. Andar de ônibus pode ser uma hilária aventura. Início desse ano passei por uma engraçadíssima. Vai lá no blog, dia 19 de janeiro de 2005 e vê lá o que aconteceu comigo.

Anônimo disse...

Andar de ônibus em Curitiba é muito mais romântico e bucólico do que experiência similar no Rio ou em Niterói...

Experimente, dia desses. Material para várias colunas do Digestivo e alguns posts temperados.

:***

Ram disse...

Gosto muito de andar de ônibus, ainda mais no Rio de Janeiro, onde você tem que ser um Buda para dirigir sem perder a cabeça... O ônibus sempre me dá tempo para pensar, para ouvir música, olhar pela janela, etcetra. Mas é claro, minha maior experiência é com o 485, que eu pegava no ponto final e passava 1 hora e pouquinho dentro dele diariamente por cinco anos e meio, ida e volta.
E na época eu não quis tirar carteira. Hoje, que ando sempre de carro, ficar uma hora e meia dentro do ônibus... Coisa de pobre :).

Nina disse...

Andar de ônibus pode até ser "poético" em alguns dias. Mas parece uma "tragédia" quando sua vida se resume a isso!

O pior de tudo, o que mais me revolta, é ver que tem gente que não cede lugar em ônibus. Nunca. Pra ninguém. Isso me dá vontade de ter carro, só pra ignorar os ignorantes da vida.